01 setembro 2010

Presente de Grego


Olá a todos!

A maioria de vocês já deve ter ouvido falar na famosa frase “Presente de grego” e, com isso, deve conhecer seu significado. Para os que não estão muito familiarizados com o assunto, este termo remete à guerra de Tróia e como os gregos conseguiram ludibriar os troianos com um presente que nada mais era do que um embuste para ganhar a guerra. Sendo assim, esta frase normalmente está associada a presentes que na verdade só trazem dores de cabeça aos presenteados.


“Mas que relação tem tudo isso com os aquários?” Você deve estar se perguntando exatamente agora.


Acontece que dentro do aquarismo existem milhares de casos de presentes de grego...


Quantas e quantas vezes já cansamos de encontrar tópicos em fóruns, com os autores desesperados porque ganharam um peixe de algum parente ou conhecido e não sabem o que fazer, pois não tem condições de cuidar ou nem mesmo sabem de qual espécie se trata?

Pois é, amigos, este é o típico caso do presente de grego!


Prestem atenção em um conselho que daremos:

A menos que o animal em questão tenha sido escolhido pela própria pessoa a ser presenteada: Peixe não é presente! Nem peixe, nem nenhum outro ser vivo!!!

  • Nada de dar peixinho de presente, como lembrancinha, para crianças em festas de aniversário! Quer dar lembrancinhas? Dê doces... elas irão gostar muito mais.

  • A menos que seu colega do amigo secreto tenha comentado com você o quanto ele gostaria de ter alguma espécie de animal: não dê um peixinho, nem uma tartaruguinha, nem um caranguejinho, nem nenhum “inho” vivo!

  • Sorteios em eventos: outro exemplo do que não é recomendado! Sortear animais em eventos mais "genéricos" é quase o mesmo que brincar de roleta russa (para os animais é claro), já pensaram se uma pessoa - que tem um aquário de 30 litros em casa - ganha bandeiras, discos ou qualquer outro peixe que precisa de um espaço bem maior? Em casos de eventos mais específicos como encontros de pessoas que gostam de killifish, Betta, Lebistes, enfim, um encontro onde as pessoas reunidas entendem e possuem condições de cuidar das espécies tratadas, aí sim seria até mais aceitável o sorteio dos animais.

  • Viu que seu tio montou um aquário novo e ainda não tem peixes ou tem poucos? A menos que você pergunte para ele, qual espécie ele gostaria de ter ali e que ainda não tem, não compre nada sem saber se pode ou não ser colocado ali!

“Ahhh, mas assim não tem como eu fazer uma surpresa para o meu querido tio”. Claro que tem! Você não precisa perguntar hoje e comprar amanhã, compre alguns dias depois, se for o caso.

  • Você tem uma loja de aquários e na inauguração ou no dia das crianças você resolve fazer algo para atrair a clientela e este “algo” envolve dar peixinhos de brinde. Não o faça!!! Dê descontos na compra de vários itens, ofereça daqueles saches de amostra grátis de rações, qualquer outra coisa que não envolva sair forçando os pobres coitados dos peixes a pessoas que às vezes não possuem aquários próprios para eles.

Lembre-se sempre de que se tratam de vidas!!! São animais que não pediram para serem entregues a pessoas que não tem condições de oferecer os mínimos cuidados para que eles vivam bem.


Casos que já presenciamos:

Caso 01:


Em uma loja que frequento, estavam distribuindo platys em saquinhos, pois era dia das crianças. Obviamente não sou uma criança (talvez para o meu pai hahaha), mas mesmo assim me ofereceram um platy.


Agradeci, mas respondi que não poderia levar o animal porque não tinha aquário de água alcalina em casa. Não é que o vendedor vira e me fala: “Ahh não, mas este peixe é de água ácida, pode levar!”

Além de me forçar o peixe, mentiu descaradamente! Avisei a ele que sabia muito bem que o peixe era de água alcalina e que não iria levá-lo, comigo correu tudo bem, mas e se fosse com outra pessoa que não soubesse sobre o pH?



Caso 02:


Estava em outra loja, olhando a bateria de peixes, nisso uma moça se aproximou, ela segurava uma dessas beteiras que mal cabem um litro de água e falava toda animada com o vendedor: “E você tem certeza que esse tal Betta vive sem bombinha? Porque eu quero dar ele de presente para uma colega do escritório que tirei no amigo secreto e na mesa dela não tem muito espaço”.


Depois que o vendedor confirmou que o peixe vivia sem a bombinha a moça terminou de escolher as coisas para o presente: pedrinhas de cor laranja para o substrato, um sapinho de cerâmica e uma plantinha de plástico “para ficar mais enfeitado” segundo a própria. Quando o vendedor perguntou qual peixe ela queria, a resposta foi rápida: “Pode ser qualquer um desses aí!”.



Caso 03:


Uma vizinha da minha avó, que ficou sabendo que eu tenho aquários, veio me perguntar onde poderia conseguir daqueles “peixes que vivem em copos”, porque iria dar uma festa de aniversário para a filha e queria presentear as amiguinhas com aqueles peixinhos.


Expliquei que se chamavam Bettas e que não viviam em copos e sim em aquários e que não poderia ser qualquer aquarinho pequeno. Ela disse então que isso não era problema, que iria comprar os aquarinhos também, então indiquei uma loja que frequento, mas ainda fiz a ressalva de que era melhor escolher outro presente, pois os peixes precisavam de certos cuidados.

Obviamente que a dita cuja ignorou esta parte, foi lá e comprou peixes e aquários... no dia seguinte ela me encontrou na portaria e veio me contar que os peixes haviam morrido, pois ela esqueceu de tampar os aquários e eles tinham pulado. Não preciso nem dizer a resposta que dei a ela (o horário não permite).


Além de tudo isto, tem os casos em que os peixes são deliberadamente soltos na natureza, seja porque o novo dono não gostou, porque bateu nos peixes menores, cresceu muito, destruiu a decoração do aquário ao fazer buracos e arrancar /comer plantas, etc. São casos de irresponsabilidade como estes que motivaram, em parte, a publicação do artigo Os Males da Introdução de Espécies Exóticas em Ambientes Aquáticos (que você encontra neste link do blog ou, em versão reduzida, na revista AquaMagazine #10).

Devemos sempre lembrar que a responsabilidade não é apenas de quem dá, mas também de quem aceita. Embora o peso maior esteja com quem dá o presente, a pessoa que o está recebendo sempre pode dizer: “Muito obrigada, mas eu não posso ficar com este animal, não tenho condições de cuidar dele adequadamente.”


Não seja leviano com a vida alheia...



Melhor não receber o animal e explicar a razão
do que ficar com um presente de grego na mão!





Cinthia Emerich & Chantal Wagner

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2 comentários:

Anônimo disse...

:]

Temos um cliente que ganhou "apenas" um lion para colocar em um MT 50 (Boyu). Ele comeu um fire fish e ainda foi chamado de "Peixe malvado" :P

Karime disse...

Isso me deixa tão triste e indignada. Se hoje em dia não se respeita nem outro ser humano, imagina esses animais que não conseguem se defender, para muitos é tão fácil descartar vidas... Continuem alertando as pessoas, o trabalho de vcs com certeza faz muita diferença!
:)